Para florir
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Eu tava na floricultura. Passava a
maior parte do meu tempo lá. Era meu trabalho. Cuidar das flores e plantas
ajudou-me a cuidar de mim também. Eu cultivava nelas a sabedoria das esperas.
Aprendi com um livro que li uma vez. Costumava ser tão impaciente para que as
coisas acontecessem depressa demais, que me esquecia do processo natural do
florescimento. Depois de conseguir esse emprego, tornei-me mais serena e amante
das flores.
A dona da floricultura me ensinou
cada processo. Desde a tratar da terra antes do plantio até o momento de transportá-las
para outro recipiente. Até o momento do desabrochar. A cada novo procedimento
eu aprendia algo sobre a vida. Descobri que as etapas das flores eram iguais às
etapas de nossas vidas.
A gente precisa de calmaria e
adubo para crescer e florescer. A gente precisa entender que cada planta
necessita de algo para chegar o que pode ser. Uns precisam de um momento de
sol, mas também precisam de sombra nos momentos certos. Uma hora vamos murchar
como se fossemos morrer, mas aí depois vamos erguendo cada pétala de nós nos
voltando para o sol, até estarmos completamente florescidos.
Há sempre um lugar certo para as
plantas, só assim elas florescerão com alegria. Aprendi que com a gente não é
diferente. Cada um precisa estar no lugar certo para o seu florescimento. Estar
na floricultura se tornou terapia. Cada dia aprendo a viver a simplicidade das
flores. Compreendi que para florir, é preciso a morte das sementes na terra.
Trabalhar na simplicidade da
floricultura me fez jogar fora o peso da correria. É um trabalho árduo e requer
muita paciência. Mas é exatamente esse trabalho que me fez desacelerar a vida. As
flores tomaram conta do meu coração. Simplificaram-me. Todas às vezes que
plantava uma semente, permitia plantar-me também. Hoje, morro todos os dias no
processo do plantio e uma nova versão de mim, reaparece sem querer fugir.
1 comentários
"para florir, é preciso a morte das sementes na terra" é aquilo de deixar para trás algo em nós para seguirmos crescendo... Obrigada por esse texto!
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